dezembro 09, 2010

Reedição do disco "Com Que Voz"


O Disco "Com Que Voz" de 1970 é sem dúvidas a obra-prima da Amália. Representa, também, o disco com mais edições no mundo inteiro: Portugal, França, Itália, Alemanha, Brasil, Japão, Estados Unidos ou Turquia, são alguns dos países onde tiveram varias edições ao longo destes 40 anos, mas posso provar que o disco percorreu o planeta, alem dos vários prémios que recebeu, é uma daquelas obras mais perfeitas do mundo do disco até hoje. Transcrevo a noticia do jornal e recomendo adquirir este fantástico trabalho da Iplay- Valentim de Carvalho.

'Com Que Voz' agora acompanhado por um 'booklet' de 88 páginas e um CD bónus.

Nos dias 7 e 8 de Janeiro de 1969, Amália Rodrigues gravou nos estúdios da Valentim de Carvalho, em Paço d'Arcos, o álbum Com Que Voz, considerado a obra-prima da fadista e um dos mais importantes discos da história da música portuguesa. No entanto, na altura foi preciso esperar mais de um ano para que este álbum chegasse às lojas, o que só aconteceu em Março de 1970. Quarenta anos depois, Com Que Voz é hoje reeditado e vem não só desvendar este mistério mas também revelar 15 gravações inéditas.

O processo de pesquisa e descoberta para a concretização desta reedição foi como entrar numa história de detectives para o editor discográfico David Ferreira e para o cantor lírico Frederico Santiago, ambos responsáveis pela coordenação desta edição. O mistério do que aconteceu nos 14 meses que separam a gravação de Com Que Voz e o seu lançamento foi resolvido quase por acaso. "Quando fui falar com a senhora da parte gráfica da Valentim de Carvalho, ia à procura de saber quem tinha feito a capa do disco, que ainda hoje não se sabe quem foi, apesar da possibilidade de ser alguém chamado Artur Henriques", conta-nos David Ferreira. "No entanto, mal lhe falo do Com Que Voz diz--me logo que se tinha atrasado imenso porque o meu tio (o editor Rui Valentim de Carvalho) gostava tanto do disco que queria que a capa saísse com batente de baixo relevo, e por isso andaram de tipografia em tipografia até desistir", acrescenta.

Até chegarem a esta conclusão várias hipóteses foram colocadas: "Ainda se pensou que a doença da irmã de Amália tinha contribuído para o atraso, mas este problema só levou ao cancelamento de alguns espectáculos durante umas semanas. Além disso, na altura as editoras foram alvo de uma investigação porque foram acusadas de terem um cartel de preços, mas achei que não fazia muito sentido adiar o disco por isto", lembra.

Esta é apenas uma das muitas histórias que são agora reveladas nesta ambiciosa reedição, que contém um booklet de 88 páginas que contou com as colaborações de nomes como Sara Pereira (directora do Museu do Fado), Margarida Mercês de Mello, Fontes Rocha ou Joel Pina.

Esta reedição revela ainda 15 gravações inéditas e várias raridades. "O Frederico acabou por descobrir versões de quatro guitarras que se pensava que estavam perdidas, mas faziam parte do arquivo da Valentim de Carvalho que não estava catalogado", refere.

A busca por estas novidades foi feita entre Frederico Santiago, Hugo Ribeiro (engenheiro de som que trabalhou regularmente com Amália) e Helena Bernardes (responsável pelos arquivos da Valentim de Carvalho). "O Hugo nunca se lembrou de dizer que havia por lá umas fitas que não se podia ouvir porque eram de uma máquina que tinha sido descontinuada. Então o Frederico começou a pesquisar e soube que nos estúdios Tcha Tcha Tcha ainda havia uma máquina para se ouvir aquilo. Quando foi lá descobriu uma série de coisas que nem sabíamos que existiam", revela David Ferreira.

Com Que Voz é também o primeiro álbum de Amália só com fados compostos por Alain Oulman, já que os discos anteriores, Busto e Fado Português, incluíam outros compositores. A presença de Oulman é fundamental, tal como a do engenheiro de som Hugo Ribeiro, que colabora nesta reedição com algumas histórias de estúdio: "Contou-me que tinha de enganar a Amália. Ele colocava dois microfones e ela perguntava-lhe 'para qual é que eu canto?'. Ele dizia--lhe para o primeiro, mas o segundo, mais afastado dela, é que estava ligado, porque ela tinha um vozeirão que distorcia tudo e para não saturar o som tinha de lhe mentir", recorda David Ferreira.

No entanto, ainda há muito por descobrir no catálogo de Amália: "Há várias raridades dispersas em discos de 45 rotações e gravações inéditas que podem ser editadas num só conjunto, enquanto outras pertencem claramente a uma família. Eu e o Frederico estamos a pensar em fazer um trabalho com as coisas do Fado Português, que representa um momento na carreira da Amália, por isso é um forte candidato a ser reeditado”.

Fonte: Diário de Noticias.