outubro 06, 2007
8 Anos de Saudade.
setembro 30, 2007
Amália em Paris 1967.
No mesmo ano em que fora editado um dos seus melhores discos “Amália 67” ou “Maldição” Amália ja era uma Artista Internacional, em Hollywood com o Kostelanetz ou Bruno Coquatrix em Paris, Amália Rodrigues era dos nomes que brilhavan nos catazes dos principais teatros do mundo.
Nessa altura aparece publicada na revista “Plateia” uma reportagem de Magê: “Descobri Amália” onde ela relata aquele encontro na “Cidade Luz”:
- Tive de ir a Paris a descobrir Amália. Esta a conclusão que cheguei depois de quasse vinte anos de vida jornalística acompanhando a espantosa carreira da Rainha do Fado sem nunca ter escrito sobre ela uma linha sequer! Tentei-o por duas vezes, ja la vão quinze anos, mas como ela nao compareceu às entrevistas marcadas, desistí. Nunca mais a procurei ou falei com ela... Julgava-a uma mulher fria, demasiado autoritária, enfim, uma “vedeta” com os seus caprichos, como é uso e costume quando se atinge a craveira de Amália.
Devo confessar que mudei totalmente de ideias ao encontrá-la nos bastidores no final do espetáculo do “Olympia”, em que ela defendeu brilhantemente a participação de Portugal nas Olimpiadas Musicais que o Bruno Coquatrix deu início na sua famosa sala.
Ela dava autógrafos a toda gente, desde polícias até a estudantes do liceu, e eu aproveitei a oportunidade para solicitar uma entrevista, contando ou com uma negativa, ou com em enconro que nao chegaría a consumar-se.
Pois, Milagre! Amália prometeu e compriu. Quando cheguei ao seu hotel, ainda ela estava deitada, e com razão, por que, após o espectáculo fora comer chucruta até ás quatro da manhã...
Não obstante, pôs-se rápidamente de pé, e arranjou-se num instante.
A minha primeira impressão ao vê-la sem pintura e logo a manhã, foi de uma mulher jovem, fresca, atraente. Os cabelos cortados, como últimamente passou a usar, dão-lhe um ar gaiato e muito gracioso. A sua pele tem uma cor bronzeada, e o seu corpo mantém uma elegância apreciável (com 1 metro e 58 centímetros de altura, o seu peso não vai alem dos 55 quilos)
Amália não conhece o emprego de cintas e tem a sorte de comer à vontade sem medo de engordar...
Falando em Paris com um entusiasmo de adolescente, disse-me: - Adoro Paris e tudo quanto vejo por toda parte. Gostaría de comprar tantas coisas ,que tal ves por isso, nunca compro nada...
É paradoxal, mas se Amália o afirma, é assim mesmo... Ela fala com uma simplicidade total, uma naturalidade que me surpreende numa mulher tão habituada, e ao longo de mais de vinte e cinco anos, à palavra êxito em numerosas línguas.
Numa pausa do meu encontro com Amália, perguntei a seu marido, que assistiu a toda entrevista, se gostava das mulheres francesas... Resposta pronta: - Olho para todas... Voltei-me Amália e indaguei: - Que pensa desta reacção do seu Marido? – Acredite, Magê, não tenho ciúmes... E, pelo meu lado, não olho para nenhum francês...
Francamente Amália é uma excepção em tudo!...
Na fotografía:
Em Paris nunca se sabe o que o céu vai trazer... Trouxe dois guarda-chuvas, um para o día e o outro para a noite...
agosto 24, 2007
Uma conversa com Amália.
Em 1985, numa tarde de Novembro, Vitor Soares, Produtor de média, subiu ao salão do 1º andar do nº 193 da Rua de São Bento para registar o testemunho de Amália Rodrigues. Passavam, então, os seus 45 anos de carreira e o objectivo era a realização de um programa sobre a música de Amália que viria a ser emitido pela rádio alemã “WDR 4”
Este extraordinário registro, é um retrato sinceiro de Amália Rodrigues, numa daquelas conversas onde ela abría seu coração. É para não perder nenhum detalhe da sua simplicidade e aquele “véu de tristeza” que Amália extendía nas suas conversas, posivelmente a procura de uma espécie de compaixão dos seus ouvintes na sua eterna necessidade de carinho na solidão da sua “estranha forma de vida”
Fonte: Vitor Soares - http://www.infoinclusoes.blogspot.com/
agosto 22, 2007
Amália a bordo do “Afonso de Albuquerque”em Dakar.
Depois de ter salvado a terra com 21 tiros, o navio foi atracar ao cais do Arsenal da Marinha Francesa. Após a apresentação de cumprimentos às entidades oficiais e uma vez recebida a habitual retribuição, nesse mesmo dia, à noite, realizou-se na Catedral de Dakar uma procissão das velas, estando presentes o Comandante, Oficiais e guarnição do “Afonso de Albuquerque”, com a qual se deu início às cerimónias entronização da imagem de Nossa Senhora de Fátima. O andor era ladeado por duas alas de marinheiros portugueses, que se prolongavam ao longo de toda a procissão.
Na manhã do dia 13 realizou-se na mesma Catedral, a missa solene pontifical celebrada pelo Bispo de Bissau, D. José de Magalhães que agradeceu ao Cônsul de Portugal ter tornado possível tão elevada manifestação de Fé, e ao Comandante Galeão Roma a presença da Marinha de Guerra portuguesa nestas celebrações.
Fazia parte do programa das cerimónias, um grandioso baile de gala no Lido, com a actuação da nossa grande Amália Rodrigues, sempre agradável de ouvir, vinda expressamente de Lisboa.
A alegria e a animação irradiavam dos rostos de todos os presentes. No entanto, havia algo que era assunto de todas as conversas a que horas chegava a Amália? Ela viria mesmo?
Reinava no ambiente um misto de impaciência e de dúvida. Mas por volta das 2 horas, eis que a Amália, acompanhada pelos seus guitarristas privativos, entra deslumbrante no enorme salão. De pé batendo palmas, todos saudavam Amália. De uma simplicidade e simpatia notáveis, Amália conquistou a assistência e começou então a cantar desde logo de forma inconfundível como só ela sabia, debaixo de enormes ovações não só dos portugueses, mas de todo o público presente.
Após ter terminado a sua actuação, Amália reuniu-se à oficialidade compatriota, a todos atendia, com todos falava e o tempo ia passando em tão agradável companhia, pois Amália tinha o condão de transportar consigo um pouco da Pátria querida, que os portugueses tanto sentem quanto mais dela estão afastados.
Mas para sabermos o que efectivamente se passou a partir daqui, conversámos com os Comandantes, na altura Segundo-Tenente Jorge Wagner (JW) e Guardas-Marinhas Perneco Bicho (PB) e Vasconcelos Castelo (VC), que nos contaram como é que a Amália foi a bordo do “Afonso de Albuquerque” cantar em privado para a guarnição do navio.
RA: Depois da actuação no Lido, como é que a Amália Rodrigues foi convidada para ir a bordo do “Afonso de Albuquerque”?
A RA enrevista os oficiais que ouviram Amália cantar em Dakar.
JW: Bem, ela não foi propriamente convidada. A questão é esta, tenho muita pena de Amália ter morrido, mas nunca cheguei a dizer publicamente o que efectivamente me tinha sensibilizado na Amália.
Não era só a fadista, mas a verdadeira Senhora que ela era. Hoje, quando se fala do povo e falar com o povo, ela sabia-o fazer como ninguém e de facto a Amália teve um gesto extraordinário para com a Marinha, mostrando que compreendia aqueles que não tinham podido assistir ao espectáculo dela no Lido oferecendo-se assim para ir cantar a bordo do navio.
De facto, e realçando este aspecto, a Amália depois de ter chegado ao Lido às 2 horas da manhã e ter cantado até às 5 horas com imenso sucesso, ofereceu-se espontaneamente para ir cantar ao navio e perguntou ao Comandante Galeão Roma “O Sr. Comandante gostaria que eu fosse cantar para a sua guarnição?” isto por outras palavras, queria dizer que ela gostava da Marinha, mas gostava sobretudo das pessoas, fossem elas quais fossem, estando disposta a sacrificar-se para lhes dar prazer e o direito de a ouvirem cantar. Foi uma nobreza notável por parte da Amália.
Perante isto, o Comandante que era uma pessoa de uma educação extraordinária, respondeu-lhe “Eu não me atreveria a fazer-lhe um pedido desses, mas já que faz esse oferecimento, aceito-o com todo o coração”, agradeceu e seguiram para bordo.
A Amália chegou ao navio perto das 5 horas da manhã, acompanhada pelos seus guitarristas.
Quando o pessoal do navio começou a passar palavra de que a Amália Rodrigues estava a bordo e ia cantar para eles, era ver como os seus rostos se modificaram e iluminaram de alegria. A alvorada foi antecipada de 2 horas. Todos corriam para a Câmara de Oficiais.
E quando a Amália apareceu diante de tantos olhos, alguns deles esbugalhados perante aquela aparição que consideravam um sonho, todos se acomodavam o melhor que podiam para não perder o mais pequeno pormenor do que iria suceder. Amália cantou então, e a todos os presentes sensibilizava e comovia.
PB: Amália cantou incansavelmente, num convívio extraordinário, onde estava também presente pessoal do N.E. brasileiro “Almirante Saldanha”, que se encontrava em viagem de instrução de Guarda-Marinhas e estava atracado junto ao nosso navio.
Ninguém sentia a mínima vontade que aquilo terminasse.
Não havia espaço para bater palmas, mas as lágrimas que aqueles corações vertiam eram o melhor aplauso à actuação de Amália, mudo e silencioso, embora muito mais significativo.
Era quase dia quando Amália terminou de cantar. O toque à faina nesse momento a todos veio trazer à realidade. O navio ia sair para Lisboa.
JW: Por ser muito cedo, caía humidade, pelo que, o Comandante foi buscar a sua gabardine para gentilmente cedê-la a Amália e com a pressa, o Comandante nem se lembrou de tirar os galões. A Amália sai e fica no cais a despedir-se de nós numa imagem inesquecível.
VC: Lembro-me perfeitamente do branco do seu vestido até aos pés e a gabardine do Comandante com os galões dourados, o que fazia um contraste extraordinário.
Os Oficiais e Guardas-Marinhas ocuparam os seus postos com os seus uniformes de gala, o pessoal tal qual como se havia reunido na câmara.
Largaram-se as espias, o navio começou a afastar-se e Amália, em terra, a todos sorria e acenava.
O navio começou a afastar-se cada vez mais e lá ao longe ainda se avistava o aceno de Amália, a quem de bordo retribuiam muitos panamás e bonés brancos de uma guarnição eternamente grata.
Obrigado Amália!
Alexandra de Brito
Referência: “Memórias de um Guarda-Marinha”, Cte. Ferreira Setas, Anais do Clube Militar Naval (nº 10 a 12/1963).
maio 07, 2007
“La Charanga”
Volta “Amália no Mundo” com uma raridade para todos seus leitores, trátasse de uma cantiga do Juan Pardo, o cantor espanhol, filho adotivo da Galiza que gravou esta canção em 1969 e fez um grande sucesso. É uma história de um caminhante que se encontra com uma rapariga chorosa por ter perdido seu amor, na confussão de uma festa acompanhada por uma charanga, o caminhante perde a rapariga e chora triste a sua lembrança. É claro que esta canção tem “fado”, sim senhor. Imagino a Amália com o coração na palma da mão a ler estes versos tristes e tão saudosos.
Durante pouco mais de 10 anos este gravação esteve perdida entre arquivos de “Amália no Mundo” principalmente por não compreender a letra, ja que no video é cantada por Amália em galego, ela não apressenta esta cantiga como costumava fazer, posivelmente seja por que foi improvisada só para este espetáculo, segundo nos disse o própio Luis Ribeiro, o grande guitarrista que acompanhou a Amália na altura.
Há uma versão original do Juan Pardo cantada em galego “A Charanga” ,em galego tem o mesmo significado do que em português: conjunto musical desafinado e barulhento, que Amália canta num espetáculo ao vivo no Japão em setembro de 1993. Esta é a letra em espanhol:
Por la vera del rio llegaba el sonido hasta mi de una charanga
Y siguiendo mi oído encontré aquel camino y también la charanga
Gente que canta bailando y bebiendo ribeiro
Y una Chiquilla llorando bajo un castiñeiro
Dime quien eres Muchacha de triste mirar
Yo, soy un caminante perdido... perdido y tu amigo
Me contó que su bien nunca mas volvería
Y su voz le temblaba y su llanto seguía
Yo le hablé de otro amor y de cosas bonitas
Ella no contestó y su llanto seguía
Canta tus penas al aire y ven conmigo
Pon tu mano en mi mano, soy tu amigo
Entre vueltas y vueltas nació su sonrisa
Entre gentes sencillas, entre besos, entre risas.
Entre vueltas y más vueltas se perdió de mi ¿Donde estás?
Guardo un recuerdo de ti, tu sonrisa entre la risa de la charanga
Cuando me fuí pasé bajo aquel castiñeiro
Aún la gente cantaba y bebía ribeiro
Me alejé del lugar por el mismo camino
Y el recuerdo llegaba hasta mí por el río
Dime quien eres Muchacha de triste mirar
Yo soy un caminante perdido...perdido, tu amigo.
Sempre a espera das vossas mensagem, fica esta história no blog, a espera de qualquer dado que dê luz a esta cantiga perdida no tempo.